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"Me despedi de minha mãe via chamada de vídeo. Que todos tenham o direito"...

Foram 15 dias de angústia até que a jornalista Silvana Andrade, 56, conseguisse se despedir de sua mãe, vítima da covid-19 aos 93 anos. As palavras da filha foram entregues durante 15 minutos, em uma chamada de vídeo feita pelo médico que a acompanhava na UTI. Maria estava entubada e inconsciente, mas Silvana disse "tudo o que queria dizer, como se ela estivesse me ouvindo". Dois dias depois, recebeu a notícia de que a mãe havia falecido.... 
Não foi fácil convencer a equipe médica a entrar com um aparelho celular na UTI do hospital particular em que a mãe estava internada, em Recife. Os pedidos foram tantos, até que conseguisse a autorização, que Silvana sugeriu um projeto de lei e apresentou ao deputado federal Célio Studart (PV-CE). O PL pede que todos os familiares de pacientes com covid-19 —ou outras doenças contagiosas— possam receber visitas virtuais, via chamadas de vídeo, como Silvana. Está em processo de coleta de assinaturas para requerimento de urgência. Leia o depoimento da jornalista:... 
 Me despedi de mamãe, fisicamente, acreditando que ela estava com uma pneumonia —ela sentia falta de ar, febre e dores no corpo. Me lembro de ela entrar no elevador e eu dizer 'mãe, eu te amo. Fica tranquila que vai dar tudo certo'. Quando as pessoas contraem esse vírus, elas saem de suas casas e entram em um buraco negro. Passei três dias sem notícias dela, sequer sabia em que UTI ela estava ou quem era o médico que a acompanhava.... 
Depois de inúmeras tentativas, consegui, pela primeira vez, falar com o médico da UTI. Ele me disse que haviam entubado minha mãe sem que eu fosse consultada, uma vez que ela estava lúcida. Segundo ele, mamãe autorizou a própria entubação. Ela foi sedada e colocada em coma induzido. Comecei a ligar, então, todos os dias, para ter notícias dela. Fazia um mês que a gente havia perdido meu pai. Mamãe e ele eram grudados, você nem imagina. Entre o ano passado e esse ano, ela passou por quatro cirurgias no fêmur —nas quatro, as hastes e próteses saíram do lugar. Droga de médico! Ele, o tempo todo, ficou do lado dela, mesmo na cama. Até que ela teve duas infecções urinárias e voltou para o hospital, em fevereiro. Papai foi adoecendo, adoecendo, e logo, morreu. Mamãe estava internada e só ficou sabendo da morte dele duas semanas depois. Quando teve alta e chegou em casa, repetia 'por que ele me deixou sozinha?'. Quando eu era jovem, a possibilidade de meus pais morrerem me fazia perder o ar. E, olha só, perdi os dois ao mesmo tempo. Não consigo te explicar o tamanho da dor, mas te garanto que ela foi amenizada quando conseguimos protocolar esse projeto de lei. Agora, ele precisa ser votado.... 
Fonte: Site Uol